1) Existe uma expressão comum a Sebald, que escreveu sobre Conrad, e Caillois, que escreveu sobre Potocki: os dois personagens estiveram "nas regiões mais remotas do globo" (Caillois ainda precisa: "de Marrocos até os confins da Mongólia"). Caillois data de 1812 o retiro final de Potocki, "neurastênico", "acometido por frequentes depressões nervosas". "Nesses acessos de melancolia", escreve Caillois, "passa o tempo limando a bola de prata que há na tampa do seu bule de chá". São três anos de atividade, até que em 20 de novembro de 1815 a bola de prata chega à dimensão desejada e Potocki "a enfia no cano de sua pistola e estoura os miolos" (p. 19).
2) Sebald comenta um caso amoroso de Conrad/Konrad/Korzeniowski, uma "história de amor" que "em alguns aspectos beira o fantástico", que alcançou seu "ponto culminante" em fevereiro de 1877, "quando Korzeniowski atirou em si mesmo no peito ou recebeu um tiro no peito disparada por um rival". Até hoje não está claro, continua Sebald, "se o ferimento resultou de um duelo, como Korzeniowski afirmou mais tarde, ou, como suspeitava tio Tadeusz, de uma tentativa de suicídio" (Os anéis de Saturno, p. 118).
3) Sebald comenta que tal "gesto dramático" condiz com um jovem que se declara "stendhaliano", o que permite lembrar que Potocki cometeu suicídio pouco mais de cinco meses depois da decisiva batalha de Waterloo (18 de junho de 1815), que decidiu o encarceramento de Napoleão por parte dos britânicos (como Roger Casement; ou, para lembrar Borges em sua autobiografia: "sempre penso em Waterloo como uma vitória"). A lembrança é decisiva já que algumas páginas adiante em seu relato, o narrador de Sebald vai à Bélgica e visita o memorial de Waterloo - "o auge da feiura belga é para mim o Monumento do Leão e todo o chamado memorial histórico da batalha de Waterloo" (p. 128).
Pouco mais adiante, escreve: "Perto de Brighton, assim me contaram, perto da costa, há dois pequenos bosques plantados após a Batalha de Waterloo, em lembrança daquela memorável vitória. Um deles tem a forma de um tricorne napoleônico, o outro o da bota de Wellington. Os contornos, é claro, não podem ser reconhecidos do chão. Ou seja, as imagens foram concebidas para balonistas futuros" (p. 130). Como não lembrar do passeio de Potocki pelos arredores de Varsóvia no balão de Blanchard, acompanhado de seu criado turco e seu poodle, em 1788? (ou do passeio de balão de Robert Walser, ou o voo pioneiro de Nadar, e assim por diante).
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