sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Tradução, intervenção

A tradução de Auerbach, edição de 1966
A tradução como resposta ao tempo presente, resposta à dimensão restritiva do tempo histórico dado - a tradução, o objeto, o texto traduzido funcionando como elemento que rompe o tempo linear e progressivo, o tempo acumulativo, instaurando um tempo que vai aos saltos (o modelo do cairós, de que fala Agamben em Infância e história). Auerbach traduzindo a Ciência nova de Vico nos primeiros anos da década de 1920, por exemplo, com a publicação em 1924 (Munique: Allgemeine Verlagsanstalt) acompanhada de uma apresentação programática - cuja tônica indicava um desejo de menos nacionalismo e mais Weltliteratur. A tradução que Walter Benjamin faz, com Franz Hessel, da Recherche de Proust - o primeiro volume em 1926, o segundo em 1930, rompendo o tecido homogêneo da literatura nacional com um objeto estranho, excessivo e caudaloso, que salta no tempo, trabalhando na associação selvagem de suas múltiplas camadas de sentido (como acontece no Livro das Passagens). Warburg traduzindo Atenas em Oraibi em 1923, Isaac Babel traduzindo Maupassant na União Soviética em 1932, Bataille traduzindo Nietzsche na Documents em 1929, etc.   

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