Em seu livro Atlas, como levar o mundo nas costas? (um longo ensaio que acompanhou o catálogo de uma exposição que ele mesmo organizou), Georges Didi-Huberman enfatiza, a partir de Aby Warburg, as inúmeras sobrevivências possíveis da imagem do titã Atlas, condenado por Zeus a sustentar o universo em seus ombros. Atlas significando, etimologicamente, aquele que carrega - aquele que carrega as imagens que contam a história do mundo, para Warburg e Didi-Huberman. A imagem do titã é ambivalente, instável. Na terminologia de Walter Benjamin, é uma imagem dialética - aquela que condensa em si temporalidades conflitantes, que exalta, simultaneamente, a coesão e o caos, ocupando posições díspares dentro de uma mesma constelação de possibilidades (mais um capítulo na extensa história do relacionamento entre Warburg e Benjamin). Atlas é uma imagem da potência e do sofrimento, do castigo e da glória - foi violentamente obrigado ao exílio por Zeus, mas foi lá que adquiriu um saber (uma perspectiva, uma visão do mundo) imenso e incomparável. A imagem de Atlas é a história do mundo em um relâmpago - primitivo, arcaico, atemporal, profético. É por isso que Atlas deixou de ser a imagem de um objeto e passou a ser a imagem de um método, de uma operação de abertura da história.
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