terça-feira, 18 de maio de 2021

Echenoz


1) Para escrever 14, seu romance de 2012, Jean Echenoz se baseou nos diários de um soldado, tio-avô de sua esposa, material que transcreveu e explorou em paralelo a obras de historiografia, filmes e fotografias do período (arquivo, documento, ficção). Em entrevista dada em 2012 para a revista Lire, Echenoz diz que o que lhe chamou a atenção no relato do soldado foi a atenção aos fatos cotidianos: o vento, a chuva, a neve, o calor e o tédio. 

2) Echenoz também traça um paralelo entre 14 e um filme de Stanley Kubrick de 1957, Glória feita de sangue, ressaltando como ambos, romance e filme, retratam a destruição promovida pela guerra do livre-arbítrio dos sujeitos. É por isso que 14 não se alinha a romances de guerra tradicionais – como Tempestades de aço, de Ernst Jünger, ou O fogo, de Henri Barbusse –, e sim a romances detalhistas e sensíveis que rastreiam a vida de personagens às vezes banais, às vezes excêntricos – como é o caso de alguns dos livros já publicados por Echenoz, como Ravel (sobre o compositor Maurice Ravel), Des éclairs (sobre o cientista Nikola Tesla) e Correr (sobre o atleta Emil Zátopek, publicado pela Alfaguara). 

3) Como outros bons ficcionistas franceses em atividade – Patrick Modiano, Pierre Michon, Patrick Deville –, Echenoz se mostra interessado não tanto em considerações amplas sobre a condição humana, e sim nos processos de transformação das subjetividades, no drama do contato frequentemente desconfortável entre o indivíduo e a passagem do tempo (algo que se cristaliza de forma indireta nas velhas fotografias e nos objetos que passam de geração em geração, como vemos em Sebald e também em outro francês, Marcel Cohen, especialmente com A cena interior).

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