domingo, 11 de março de 2018

Pinochet e o Quixote, ainda

Outra das definições do leitor ideal de Alberto Manguel é digna de nota: "O leitor ideal lê toda literatura como se fosse anônima". Se a relação entre leitura e Pinochet nos permitiu alcançar tanto Roberto Bolaño quanto Ricardo Piglia, especialmente Respiração artificial, é possível permanecer no âmbito dessa referência com essa nova definição de Manguel. Além disso, é possível inclusive permanecer no âmbito da influência borgiana, na qual tudo começou. A frase de Manguel é uma sorte de glosa das idéias sobre poética de Paul Valéry, e Valéry ocupa posição importante no romance de Piglia (sua ideia de que o primeiro romance moderno é o Discurso do método, de Descartes, porque conta a história de uma ideia, não de uma paixão).
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"O leitor ideal lê toda literatura como se fosse anônima" - eis uma ideia de Valéry que Borges decantou ao longo de sua carreira. Borges, no ensaio "La flor de Coleridge", reunido em Otras inquisiciones, de 1952, escreve sobre Valéry: "Hacia 1938, Paul Valéry escribió: La Historia de la literatura no debería ser la historia de los autores y de los accidentes de su carrera o de la carrera de sus obras sino la Historia del Espíritu como productor o consumidor de literatura. Esa historia podría llevarse a término sin mencionar un solo escritor.'". Se o leitor ideal lê toda literatura como se fosse anônima, a história dessa literatura deve ser escrita sem mencionar um só escritor. 

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