Ainda no tema da relação entre o polonês e o francês - ou entre poloneses e franceses -, há um conto de Bakakai (que reúne os primeiros contos escritos por Gombrowicz), "Memórias de Stefan Czarniecki", de 1926, no qual o narrador-protagonista relata um típico dia de escola: "Lembro-me também do verseto: Quem és tu? Um pequeno polonês. Qual é teu símbolo? A Águia Branca. Lembro-me, finalmente, de meu querido professor de História e de Literatura Nacional, um velhote sossegado, inofensivo, que nunca levantava a voz. 'Senhores', dizia ele, tossindo num grande lenço de seda ou limpando meticulosamente as orelhas. 'Qual o povo que foi o Messias dos povos? O baluarte do cristianismo? Que outro povo teve em sua História um Príncipe Joseph Poniatowski? Se quiséssemos contar os gênios, sobretudo os precursores, só na Polônia tivemos tantos quanto a Europa inteira". Em seguida, em sua enumeração dos "gênios" poloneses que parece ecoar naquela que Gombrowicz faz em seu Curso (Nietzsche, Schopenhauer, Kant), o professor cita os europeus e os alunos respondem com os poloneses:
- Dante?
- Eu sei, eu sei, professor! - exclamava eu imediatamente.
- Krasinski!
- Molière?
- Fredro!
- Newton?
- Copérnico!
- Beethoven?
- Chopin!
- Bach?
- Moniuzsko!
- Podem ver por si mesmos... - concluía ele. - Nossa língua é mil vezes mais rica do que a língua francesa, que no entanto tem fama de ser a mais requintada. O que diz o francês? "Pequeno", "pequenino", "muito pequeno", só isso. Ao passo que nós, que riqueza! "Maly", "malutki", "maluchny", "malusi", "maleñki", "malenieckzi", "malusienki", e assim por diante.
(Gombrowicz, Bakakai. Tradução do francês de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Expressão e Cultura, 1968, p. 228-229).
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