Witold e Rita |
1) Uma constante que se nota é o uso da língua francesa: Caillois frisando que não apenas o Manuscrito, mas que toda obra de Potocki foi escrita em francês; Sebald citando trechos das cartas de Conrad à família escritas em francês; a leitura de Montaigne da História dos reis e príncipes da Polônia na tradução francesa. Condiz com a série, portanto, o Curso de filosofia em seis horas e quinze minutos, que Witold Gombrowicz ditou em francês (o curso foi dado de 27 de abril a 25 de maio de 1969, tendo como audiência sua mulher, Marie Rita Labrosse, que anotou as lições, e seu colaborador dos últimos anos, Dominique de Roux).
2) Na penúltima sessão, dedicada a Nietzsche, Gombrowicz escreve já na primeira linha: "Nietzsche, como Kant e Schopenhauer, era polonês!", e uma nota de rodapé desenvolve o conteúdo da exclamação: "A cidade natal de Kant, Königsberg (hoje Caliningrado ou Kaliningrado, na Rússia), era reivindicada pelos poloneses, que a chamavam de Królewiec. Schopenhauer era de Danzig, também reivindicada pelos poloneses com o nome de Gdánsk. Nietzsche, mesmo tendo nascido em Röcken, na Saxônia prussiana, cultivou a ideia, que parece sem fundamento, segundo a qual seus ancestrais eram nobres poloneses ('Eu sou um cavalheiro polonês puro-sangue', Ecce Homo, 1888)".
3) (Witold Gombrowicz, Curso de filosofia em seis horas e quinze minutos, José Olympio, 2011, p. 142. A tradução é complicada: Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca (tradutora de Kundera) traduziu o Curso do francês ao português; o prefácio de Francesco Cataluccio - tradutor italiano de algumas obras de Gombrowicz e de Bruno Schulz -, valioso e bem informado, acompanha a edição francesa usada como base para a brasileira, tendo sido traduzido do italiano ao francês por Danièle Valin, e do francês ao português por T. B. C. da F. Houve uma edição francesa do Curso anterior à italiana, que foi preparada e prefaciada por Cataluccio - a reedição francesa, portanto, fonte da brasileira, incorpora o prefácio de Cataluccio e muito provavelmente suas notas (não fica claro na edição brasileira quem responde pelas notas - como essa que explica como Nietzsche, Kant e Schopenhauer podem ser poloneses -, mas o tom de algumas delas acompanha de perto aquele que Cataluccio usa no prefácio).
A "árvore da filosofia" de Gombrowicz, desenhada no verso de uma folha do Banco Polaco, de Buenos Aires |
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