Na apresentação que faz à Sinagoga dos iconoclastas de Wilcock, Ruggiero Guarini fala de seu amigo: sentado em sua poltrona, isolado em sua casa na montanha, relendo Wittgenstein. Wilcock relendo Wittgenstein. Um dos verbetes da Sinagoga trata de um excêntrico diretor de teatro, Llorenç Riber, que levou aos palcos Investigações Filosóficas, de Wittgenstein. Pois é precisamente nesse livro que Wittgenstein fala da noção de semelhança de família - que define o objeto A como parente do objeto B pelo compartilhamento de algumas características em comum, e o objeto B parente do objeto C pela mesma razão, etc, o que faz com que, mesmo que A e C não tenham nada em comum, a semelhança comum com B os mantém na mesma família. Esse é o próprio tema subterrâneo da Sinagoga: armar um inventário de peças heterogêneas que, ainda assim, possa ser visto como um todo, sem, com isso, reivindicar qualquer tipo de totalidade. De um hipnotizador que caminha pelo ar para um cirurgião que desenvolveu um método de coagulação do sangue, deste para o pastor romeno que matava negros para o Juízo Final, em Belém do Pará, e assim sucessivamente. O centro está em todo lugar e em lugar algum, como numa coleção de cacos, tomados como cacos, e não como formas prévias de uma reconstrução.
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