De fato, detesto Flaubert.
Só mesmo um macho francês
esnobe cheio de si
para zombar a tal ponto
dos sonhos de uma mulher.
Um macho,
quer dizer,
alguém que não sonha.
(Os homens sempre tiveram
ciúmes dos sonhos das mulheres
porque não podem controlá-los.)
Flaubert sonhou Emma Bovary,
mas pode-se dizer, com toda a certeza,
que Emma Bovary jamais sonhou Flaubert.
(No final de seus dias, Flaubert estava
farto da fama de Madame Bovary.
Ela era mais célebre que ele.)
(Cristina Peri Rossi, "Contra Flaubert", Aquela noite (1996), in: Nossa vingança é o amor: antologia poética (1971-2024), edição bilíngue, seleção e tradução de Ayelén Medail e Cide Piquet, São Paulo: Editora 34, 2025, p. 110)
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