"Um pesadelo me persegue desde a infância: tenho, diante dos olhos, um texto que não posso ler, ou do qual apenas consigo decifrar uma ínfima parte. Eu finjo que o leio, sei que invento; de repente, o texto se embaralha totalmente e não posso ler mais nada, nem mesmo inventar, minha garganta se fecha e desperto" (Michel Foucault, "Sobre as maneiras de escrever a história", entrevista, junho de 1967, Ditos e escritos, vol. II, trad. Elisa Monteiro, Forense, 2008, p. 72).
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"Puig disse algo maravilhoso, que o inconsciente tem a estrutura de um folhetim. E tem razão. Porque o inconsciente é o mundo das paixões arrebatadoras, dos desejos que não tem registro nem sanção social. Sempre se deseja o que não convém" (Piglia, Las tres vanguardias, Eterna Cadencia, 2016, p. 139-140).
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"O verão declinava, e compreendi que o livro era monstruoso. De nada me adiantou considerar que não menos monstruoso era eu, que o percebia com olhos e o apalpava com dez dedos com unhas. Senti que ele era um objeto de pesadelo, uma coisa obscena que infamava e corrompia a realidade" (Borges, "O livro de areia", O livro de areia, trad. Davi Arrigucci Jr, Cia das Letras, 2009, p. 104-105).
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