terça-feira, 16 de abril de 2019

Conversações

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Os poucos bons livros que restaram deste século, ou melhor, os que com seus ramos ultrapassaram este século, como árvores que não possuem raízes nele. Refiro-me ao Memorial de Santa Helena e às Conversações de Goethe com Eckermann."

(Friedrich Nietzsche, Sabedoria para depois de amanhã, trad. Karina Jannini, São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 189)
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Em 1986, Avital Ronell publica um livro intitulado Dictations: On Haunted Writing, dedicado justamente à permanência (fantasmática, espectral) das Conversações de Goethe e Eckermann. À maneira do livro de Jacques Derrida, o projeto de Ronell poderia muito bem ter sido chamado Espectros de Goethe, já que a autora defende a ideia de Conversações como uma sorte de mensagem polifônica de Goethe do além-tumba (como as Mémoires d'Outre-Tombe de Chateaubriand, lançadas em 1849-1850). Ronell salienta os momentos em que Goethe, em suas conversas, remete ao fluido e ao imaterial, aos sonhos e sensações, nuvens, fantasmas e transmissões telepáticas - rastreando esse tipo de atenção até, por exemplo, Freud e sua Psicopatologia da vida cotidiana

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