"Claude Lévi-Strauss foi lançado no meio intelectual nova-iorquino e, mais amplamente, norte-americano, alguns anos antes, por uma observadora sagaz e simpatizante da intelligentsia francesa, a romancista, ensaísta, militante, radical e feminista Susan Sontag, discípula de Simone de Beauvoir, que frequentou a Rive Gauche durante seus anos parisienses, em meados dos anos 1950. Em novembro de 1963, na badalada New York Review of Books, ela apresenta bombasticamente Lévi-Strauss como a última grande figura intelectual produzida por uma França que não é avara nesse aspecto. Segundo ela, ao contrário de Sartre, a quem é oposto em tudo, Lévi-Strauss se prenderia a uma tradição nacional que preconiza 'o culto da frieza e do espírito geométrico'. Numa manobra sedutora, mas falsa, ela o associa ao nouveau roman e ao modernismo literário, com o qual, sabemos, Lévi-Strauss tem poucas afinidades. No mesmo momento, no Times Literary Supplement, George Steiner troca a 'frieza' pela 'altivez' da empreitada lévi-straussiana e faz dele um 'moralista' no sentido do século XVII, o que ele peleja para traduzir para seu público anglo-saxão.
Eis então Lévi-Strauss transformado, no início dos anos 1960, e após um noivado por muito tempo adiado, num 'herói do seu tempo'. A despeito da dificuldade de seus escritos, a juventude estudantil está fascinada tanto pelo seu estilo de pensamento como por suas promessas. Como dirá Michel Foucault na epígrafe de As palavras e as coisas, 'o estruturalismo não é um método novo: ele é a consciência desperta e inquieta do saber moderno'. O frêmito de inquietude e a 'dúvida antropológica' a que Lévi-Strauss se referiu em sua aula inaugural promovem a disciplina ao status das que merecem uma vida dedicada a ela"
(Emmanuelle Loyer, Lévi-Strauss, trad. André Telles, Edições Sesc São Paulo, 2018, p. 435-436).
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