1) Museo del chisme, de 2005, é um livro que Cozarinsky apresenta em duas partes bem separadas, um ensaio introdutório - intitulado O relato indefensável - e uma coletânea de anedotas, de fofocas, de chismes, que Cozarinsky chama de Quadros de uma exposição (ou seja, é precisamente a disposição narrativa desse Museo, algo que evoca, por exemplo, os Fatos inquietantes de Juan Rodolfo Wilcock).
2) O ensaio introdutório, no entanto, data de 1973, tendo sido expandido e aprimorado alguns anos depois em Paris, quando Cozarinsky frequentou um seminário de Barthes (ele, e as coletâneas organizadas por Borges e Bioy são os principais modelos do Museo - além da referência mais óbvia já indicada pelo título: Macedonio Fernandez). As anedotas recolhidas na seção Quadros de uma exposição são fruto de décadas de trabalho - de leitura e, principalmente, de escuta, pois a maioria das fontes são orais (amigos, amigos de amigos).
3) O chisme, para Cozarinsky, é uma prática universal. Uma "forma plebeia e incipiente da literatura", fruto da conversação, da mobilidade social, do viver-junto posto em discurso. O chisme diz respeito à imaginação e à transmissão oral - está ligado à literatura, mas é transitório, é reelaboração permanente, possibilidade pura. Não surpreende, portanto, que Cozarinsky cite o ensaio de Walter Benjamin sobre Leskov e o narrador, falando (com Barthes) da narração como tecido, trama interminável e renovável que articula obra e vida (daí decorre também a principal referência ficcional do ensaio de Cozarinsky, Marcel Proust).
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