quinta-feira, 18 de julho de 2013

Prefácios

Antoine Compagnon, em O trabalho da citação (p. 128-134), fala de Hegel e do prefácio que escreveu à Fenomenologia do espírito. Um prefácio que condena a escrita de prefácios, uma vez que quando o autor explica o fim pretendido por seu trabalho esvazia seu sentido filosófico. O prefácio, escreve Hegel, na citação de Compagnon, é "sem valor como modo de exposição da verdade", e, ainda assim, Hegel o faz, mesmo que negativamente. O outro extremo apresentado por Compagnon é Descartes - pois, se Hegel faz um prefácio contra o ato de fazer prefácios, o prefácio de Descartes (a Princípios de Filosofia) é um prefácio no condicional, um prefácio imaginado, aquilo que é feito se eventualmente ele pudesse de fato escrever um prefácio.
*
"Deveria escrever um novo prefácio para este livro já velho", escreve Foucault em História da loucura, e continua: "confesso que a ideia não me agrada, pois isso seria inútil". O livro já se multiplicou, já está fragmentado e fora de qualquer possibilidade de controle. Mas, "para quem escreve o livro", é grande a tentação "de legislar sobre todo esse resplandecer de simulacros, prescrever-lhes uma forma". O prefácio leva à tentação da tirania, do controle: leva à tentação do "sou o autor", escreve Foucault. O desejo que apresenta no prefácio é outro: gostaria que o livro "tivesse a desenvoltura de apresentar-se como discurso: simultaneamente batalha e arma, conjunturas e vestígios, encontro irregular e cena repetível". E nas duas últimas linhas Foucault resgata a aporia hegeliana: " - Mas você acabou de fazer um prefácio! - Pelo menos é curto".

2 comentários:

  1. Legal seria elevar ao exercício do prefácio a própria discussão de Gilberto Freyre a respeito do patriarcalismo, entendo haver em Casa Grande & Senzala uma dose confessional propiciada pela forma do ensaio. É o próprio Giba que assume ser um prefáciomaniáco. Ve-se então a dimensão do problema.

    ResponderExcluir