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1) A biopolítica é antiga, já tem uns duzentos anos. Nasceu quando a disciplina dos corpos transformou-se em controle da vida e produção de subjetividades. A biopolítica não trabalha com a contenção e sim com a determinação de um percurso.
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2) Nas ações biopolíticas contemporâneas, existiriam vidas mais produtivas, que desfrutariam dos avanços da ciência, e vidas consideradas de menor valor, que serviriam de cobaias para experimentos científicos? É só pensar nos testes farmacêuticos mostrados em O jardineiro fiel.
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3) Os corpos estão expostos, excluídos do estado de direito, para usar os termos de Agamben. A geopolítica, ramo da biopolítica, determina zonas de indeterminação nas quais a liberdade é relativizada. Uma coisa é dizer, outra coisa é fazer: é só pensar no abismo entre Russell Crowe e Leonardo DiCaprio em Rede de mentiras, de Ridley Scott.
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4) Zoé: vida pura, biológica. Bios: vida cultivada, comunidade. Homo sacer: aquele que é separado pelo soberano, cuja morte não é homicídio e que não pode fazer parte dos rituais de sacrifício – está na lei como um exilado. O homo sacer existe biologicamente mas não politicamente, ainda que a manipulação de seu corpo fortaleça a potência política do soberano. O homo sacer é vida nua porque está à mercê da soberania biopolítica. É o marido de Reese Whiterspoon em O suspeito, de Gavin Hood, capturado no aeroporto e enviado para uma sala de tortura no Oriente Médio.
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5) Se o estado de exceção é a regra, como quer Benjamin, como quer Agamben, toda vida é nua e está disponível para edição e cerceamento. Paradoxalmente, a vida menos nua talvez seja daquele sujeito que vive no interior do Pará, sem luz elétrica.
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6) Agamben afirma que “o ingresso da zoé na esfera da polis, a politização da vida nua como tal, constitui o evento decisivo da modernidade, que assinala uma transformação radical das categorias político-filosóficas do pensamento clássico” (p. 12).
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7) E diz mais: “o corpo do homo sacer e a vida nua constituem a força e, ao mesmo tempo, a íntima contradição da democracia moderna: ela não faz abolir a vida sacra, mas a despedaça e dissemina em cada corpo individual, fazendo dela a aposta em jogo do conflito político. (p.130). Os agentes de 20 milhões de dólares do projeto Treadstone, em A identidade Bourne, que sofriam de dores de cabeça e uma série de problemas físicos e mentais, decorrentes das intervenções realizadas artificialmente, são bom exemplo. Seu corpo é a aposta da soberania no jogo do conflito político, e sua morte é apenas uma baixa.
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8) O poder soberano clássico fazia morrer. A biopolítica moderna fazia viver. O estado de exceção contemporâneo faz sobreviver. Trata-se de um mecanismo de manutenção controlada das vidas – deixar a vida exposta ao puro exercício da técnica.
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2) Nas ações biopolíticas contemporâneas, existiriam vidas mais produtivas, que desfrutariam dos avanços da ciência, e vidas consideradas de menor valor, que serviriam de cobaias para experimentos científicos? É só pensar nos testes farmacêuticos mostrados em O jardineiro fiel.
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3) Os corpos estão expostos, excluídos do estado de direito, para usar os termos de Agamben. A geopolítica, ramo da biopolítica, determina zonas de indeterminação nas quais a liberdade é relativizada. Uma coisa é dizer, outra coisa é fazer: é só pensar no abismo entre Russell Crowe e Leonardo DiCaprio em Rede de mentiras, de Ridley Scott.
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4) Zoé: vida pura, biológica. Bios: vida cultivada, comunidade. Homo sacer: aquele que é separado pelo soberano, cuja morte não é homicídio e que não pode fazer parte dos rituais de sacrifício – está na lei como um exilado. O homo sacer existe biologicamente mas não politicamente, ainda que a manipulação de seu corpo fortaleça a potência política do soberano. O homo sacer é vida nua porque está à mercê da soberania biopolítica. É o marido de Reese Whiterspoon em O suspeito, de Gavin Hood, capturado no aeroporto e enviado para uma sala de tortura no Oriente Médio.
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5) Se o estado de exceção é a regra, como quer Benjamin, como quer Agamben, toda vida é nua e está disponível para edição e cerceamento. Paradoxalmente, a vida menos nua talvez seja daquele sujeito que vive no interior do Pará, sem luz elétrica.
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6) Agamben afirma que “o ingresso da zoé na esfera da polis, a politização da vida nua como tal, constitui o evento decisivo da modernidade, que assinala uma transformação radical das categorias político-filosóficas do pensamento clássico” (p. 12).
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7) E diz mais: “o corpo do homo sacer e a vida nua constituem a força e, ao mesmo tempo, a íntima contradição da democracia moderna: ela não faz abolir a vida sacra, mas a despedaça e dissemina em cada corpo individual, fazendo dela a aposta em jogo do conflito político. (p.130). Os agentes de 20 milhões de dólares do projeto Treadstone, em A identidade Bourne, que sofriam de dores de cabeça e uma série de problemas físicos e mentais, decorrentes das intervenções realizadas artificialmente, são bom exemplo. Seu corpo é a aposta da soberania no jogo do conflito político, e sua morte é apenas uma baixa.
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8) O poder soberano clássico fazia morrer. A biopolítica moderna fazia viver. O estado de exceção contemporâneo faz sobreviver. Trata-se de um mecanismo de manutenção controlada das vidas – deixar a vida exposta ao puro exercício da técnica.
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