2) The Power of the Dog - o filme de Jane Campion - articula os dois registros: uma narrativa do contágio que se desenrola em paralelo a uma educação do olhar-rastreador. As posições temporais, contudo, estão mescladas de forma complexa: o contágio diz respeito tanto ao envenenamento de Phil quanto a sua relação passada com Bronco Henry; a educação do olhar-rastreador se dá tanto entre Phil e Bronco Henry quanto entre Phil e Peter (que inverte em parte essa relação quando mostra a Phil, abruptamente, que ele também é capaz de reconhecer o cão na face da montanha). A caixa secreta, que guarda as revistas de Bronco Henry, serve de artefato-fetiche, fechando o circuito da triangulação Phil-Peter-BH (ela garante que o contágio se espalhe ao longo do tempo, mesmo décadas depois da morte de seu dono).
3) O contágio (do veneno em Phil) se dá através do corte, o corte na mão feito no momento em que perseguem um coelho assustado que se esconde numa pilha de pedaços de madeira. O corte, de resto, é um detalhe que se destaca na composição geral do filme e do personagem - em outras palavras, é um punctum. Na Câmara clara, Barthes fala do punctum precisamente como "ferimento" ou "picada", aquilo que na imagem leva a um "ferimento" do olho/no olhar, um golpe, um corte, uma "pontuação" (é digno de nota, portanto, que o detalhe do corte na mão de Phil seja precisamente um punctum, o ferimento do corpo é simultaneamente o ferimento da imagem, aquilo que chama o olhar, que atrai o olhar, que galvaniza a atenção e que torna possível o contágio - e, com isso, o encerramento, o clímax, o arremate, a catarse, o gozo).
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