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Wilhelm Fliess, 1858-1928 |
"Marcho lenta e resolutamente pela
dreckologia", escreve Freud a Wilhelm Fliess em 29 de dezembro de 1897. O termo é um neologismo criado por Freud a partir da palavra ídiche equivalente a
merda,
Dreck. Trata-se, portanto, de sua
merdologia, uma espécie de caminho teórico paralelo, ligado ao campo que Freud denominará de "metapsicologia" (mais aberto à especulação e à ficção). A dreckologia envolvia sobretudo interpretação de sonhos - tanto os de Freud quanto os de alguns de seus pacientes -, sonhos que com frequência envolviam fantasias de ordem escatológica (como o paranoico que imagina que colocam merda em sua comida). "Hoje lhe envio o número 2 dos relatórios 'dreckológicos'", escreve Freud na carta seguinte, de 4 de janeiro de 1898. "O nº 1, que estou conservando comigo", continua Freud, "contém sonhos desvairados que dificilmente seriam de seu interesse; eles fazem parte de minha auto-análise, que ainda continua tateando na mais absoluta escuridão" (
A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess, 1887-1904. Edição de Jeffrey Masson, tradução de Vera Ribeiro, Rio de Janeiro, Imago, 1986, p. 291-292).
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A
dreckologia de Freud podia portanto abarcar tanto a interpretação ampla dos sonhos (e nesse sentido a dreckologia de 1897 é uma preparação para a
Interpretação dos sonhos de 1900) como a consideração restrita dos sonhos que envolviam o "
gerenciamento de dejetos" (motivo freudiano por excelência, não apenas por conta da solicitação evidente das funções de absorver e defecar, mas também pela solicitação do exercício mais subterrâneo de constante interesse pelas operações "sujas", recalcadas - seja na dimensão cultural, seja na dimensão pessoal.
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