sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O delírio bélico de Amalfitano

Pietro Badoglio e Winston Churchill, 1944
1) Óscar Amalfitano, personagem de Bolaño, que nasce em Los sinsabores del verdadero policía e reaparece em 2666. Professor de literatura, chileno, perdido pelo mundo: Argentina, Brasil, México, Espanha, França, Costa Rica, Canadá, sempre ensinando literatura latino-americana. Eu que ensinei a poesia de Huidobro, Neruda, De Rokha, Borges, Girondo, Martín Adán, Macedonio Fernández, Vallejo, Rosamel de Valle, Owen, Pellicer, reflete Amalfitano, em troca de um salário miserável e da indiferença dos meus pobres alunos que viviam por um fio (capítulo 5 de Los sinsabores).
2) O senso de humor de Amalfitano, escreve Bolaño, era inseparável de seu senso da história - o que redundava em uma mistura de maravilhamento e horror diante da visão das coisas do mundo. Quando ensinava na Itália, Amalfitano se viu em um jantar da Nova Direita Italiana, em um hotel de Bologna - sem sequer saber como havia chegado ali. Em determinado momento, escreve Bolaño, evidentemente objeto de uma confusão de identidades, passaram a palavra a Amalfitano. Sem se fazer de rogado, Amalfitano passou a discursar sobre "o mistério dos povos admiráveis" (capítulo 26 de Los sinsabores).
3) Com duas frases despachou os romanos e os príncipes do Renascimento e em seguida atacou o centro de seu tema: a Segunda Guerra Mundial e o papel da Itália. A campanha da Grécia com o velho Badoglio, continua Amalfitano, ou a campanha da Líbia do impetuoso Graziani, a divisão San Marco, a Monte Rosa, a Cremona, a Centaura, a divisão Pasubio, a divisão Lupi di Toscana, a divisão Rovigo e a divisão Nembo. Depois da confusão já armada, com a Nova Direita Italiana gritando raivosa, Amalfitano finaliza: o sangue, pra quê? O que o justifica, o que o redime? E Amalfitano responde a si próprio: o despertar do colosso italiano, esse colosso que desde Napoleão todos desejam anestesiar.  

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