1) Kurt Forster ("Aby Warburg: his study of ritual and art on two continents", October, vol. 77, verão de 1996) conta o episódio em que Warburg teve um ataque intenso de agitação quando "alguns objetos triviais", que estavam em cima de sua mesa de trabalho, "foram removidos de seus lugares", ou, "para colocar em termos astrológicos, tiveram seus aspectos mútuos transformados". A mesa, para Warburg, escreve Forster, era "um local ritualístico para o sacrifício mental".
2) Harold von Hofe ("German Literature in Exile: Alfred Döblin", The German Quarterly, vol. 17, n. 1, janeiro de 1944) fala dos manuscritos de Döblin escondidos no porão da Sorbonne, de seu encontro com o presidente Roosevelt na Casa Branca e de seus trabalhos como roteirista em Los Angeles - e fala da dor de Döblin de deixar para trás sua mesa de trabalho, uma das poucas recordações do pai (que fugiu de casa com uma mulher vinte anos mais jovem quando Alfred era criança).
3) Ellie Ragland-Sullivan ("The magnetism between reader and text: Prolegomena to a lacanian poetics", Poetics, vol. 13, n. 4-5, outubro de 1984) e Shoshana Felman ("Lacan's Psychoanalysis, or The Figure in the Screen", October, vol. 45, verão de 1988) escrevem, em tons bem distintos mas com horizontes em comum, sobre a "presença de palco" de Lacan, seu "posicionamento cênico" atrás da mesa de trabalho, sua "performance gestual", um corpo que mimetiza as evoluções do pensamento.
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"Minha existência é lisa como minha mesa de trabalho", escreve Flaubert, "e imóvel como ela" (na carta de 7 de agosto de 1859 a Mme. Jules Sandeau)
Lembrei do papel que tem, em The Music of Chance, a alteração de relações de força no universo "causada" pela retirada dos bonequinhos.
ResponderExcluirÉ verdade, jamais lembraria dessa passagem.
ExcluirO mundo como um tabuleiro de xadrez, miniaturizado.
Me lembrou também aquele breve conto do Piglia, sobre o sujeito que tinha uma maquete de Buenos Aires no quintal de casa.