“Coptic pilgrims from Egypt, bathing in the Holy Waters of the Jordan, Palestine”, c.1900 |
Um percurso espinhoso promove o contato entre a relação pessoal entre Freud e Thomas Mann e uma reivindicação da história como cena de perda e trauma, cujo acesso só é possível a partir de fragmentos e dejetos coletados na malha do tempo. Numa carta de 1936 a Thomas Mann (Letters of Sigmund Freud, Ernest L. Freud (ed), Nova York, Basic Books, 1960, p. 432-434), Freud fala de José e seus irmãos, fala da carga mitológica que perdura nessa história e cita Napoleão - Napoleão como uma espécie de simulacro de José, envolvido inclusive em intensas batalhas (na infância, com seus irmãos) pelo amor de sua mãe. O antagonismo diante do irmão mais velho, argumenta Freud, foi transformado por Napoleão em amor, mas seguiu determinante para seu caráter. Foi para impressionar o irmão que Napoleão fez questão de invadir o Egito, escreve Freud, e aí tudo se fecha, num nó provisório que une o mítico (o Egito de José, o mesmo Egito de Napoleão), o pessoal, a cena familiar (Napoleão como imperador é ainda um irmão mais novo preso a uma insegurança, a um desejo inconsciente de agradar) e o histórico, a cena mais ampla (o saque do Egito, que sobrevive ainda hoje no Louvre, por exemplo; que sobrevive ainda hoje na argumentação densa e extensa de Edward Said em Cultura e imperialismo).
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