segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Crítica e hipermetropia, 2

1) "Narrar ou descrever?", o ensaio de Lukács, é de 1936 - rigorosamente o mesmo ano de publicação do ensaio de Walter Benjamin sobre Nicolai Leskov, "O narrador" (e também o ano da primeira edição de Auto-de-fé, de Elias Canetti). O ensaio de Benjamin foi publicado na edição de outubro da revista Oriente e Ocidente, editada pelo eslavista Fritz Lieb. O ensaio de Lukács foi publicado em duas partes: novembro e dezembro, números 11 e 12 da revista Internationale Literatur-Deutsche Blätter ("papéis alemães"), editada em Moscou por exilados alemães (o editor-chefe era Johannes R. Becher).
2) Dois ensaios sobre a narração, o narrador e o ato de narrar - todos eles em direto antagonismo com relação às modas literárias da época (Lukács tem como alvo especial o naturalismo de Zola) e íntima ligação com o substrato arcaico da literatura épica. Para Lukács, sua época é o tempo da decadência: "a relação entre o homem e a sociedade, entre o individual e o coletivo, é tão deformada e fetichizada no expressionismo e no futurismo como no naturalismo". 
3) Benjamin toma outro percurso. Não apenas no que diz respeito à avaliação do expressionismo (que Benjamin acolhia com entusiasmo em Döblin e Broch, por exemplo), mas principalmente com relação ao embate entre narração e romance, por exemplo. Benjamin não trabalha na lógica do "ou" - Tolstoi ou Zola -, trabalha na lógica do "e": Flaubert e Leskov, Kafka e Proust... Lukács, mesmo com a "grandeza da experiência soviética" professada em seu ensaio, não tinha espaço para tal abertura.    

2 comentários:

  1. Convém lembrar da belíssima cutucada que Candinho, também conhecido como Antonio Cândido, dá neste artigo de Lukács em "O discurso e a cidade" no qual ele examina - ai, que saudades de ver isso acontecer! - os argumentos do húngaro especificamente na literatura de Zola. Infelizmente os termos me faltam, a cabeça já não gira como antes, mas, como disse acima, convém. Não repete sua fórmula acima, da disjunção húngaro-soviética e a conjunção germano-judaica (o que, por si só merece uma outra série de considerações), mas oferece para quem reflete sobre o tema aquilo que Lévi-Strauss dizia serem as oposições, digo, que o contrário de uma coisa podem ser duas outras coisas.

    Feliz Aniversário, mais uma vez.

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  2. Não lembro desse texto do Candido, vou dar uma olhada.

    E esses caminhos aparentemente próximos e aparentemente distantes de Lukács e Benjamin merecem, realmente, outra série de considerações.

    Obrigado pelos parabéns!

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