domingo, 7 de outubro de 2012

A vida dos homens infames


1) Deleuze, em sua monografia sobre Foucault, faz referência ao ensaio “A vida dos homens infames”, escrito por Foucault em 1977 para Les cahiers du chemin e, em 1982, reeditado como introdução ao livro Le désordre des familles, que trazia reproduções das ordens imperiais - lettres de cachet - de prisão contra os loucos e proscritos na França dos séculos XVII e XVIII. 

2) Lettres de cachet: documento pelo qual o rei mandava prender alguém, sem processo e sem prazo determinado. É mais conhecida a sua aplicação política - contra Voltaire, por exemplo. Mas o seu uso mais frequente era feito a pedido da família - contra o jovem Sade, por exemplo.

3) Em seu comentário, Deleuze recorda um possível contato com a ficção de Borges. “Devemos ressaltar que Foucault se opõe a outras duas concepções de infâmia”, escreve Deleuze; a primeira concepção, “próxima de Bataille”, trata de “vidas que entram para a lenda ou a história por seus próprios excessos”.

4) A segunda concepção, “mais próxima de Borges”, “uma vida se torna legendária porque a complexidade de sua trama, seus desvios e suas descontinuidades só podem alcançar inteligibilidade mediante um relato capaz de esgotar o possível, de cobrir eventualidades até mesmo contraditórias”. 

5) “Mas Foucault”, continua Deleuze, “concebe uma terceira infâmia; na verdade, uma infâmia de raridade ou escassez, a de homens insignificantes, obscuros e simples, que devem apenas a processos, a relatórios policiais, o fato de aparecerem por um instante à luz”. "É uma concepção próxima de Tchékhov", finaliza Deleuze.
 

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