terça-feira, 25 de novembro de 2025

Queen and Country



1) O movimento mais interessante de Georges Didi-Huberman em seu ensaio sobre Steve McQueen (no livro Sobre o fio) está na aproximação que realiza da obra deste (especificamente seu uso dos selos postais) com as "intuições teóricas de Aby Warburg e Walter Benjamin sobre o tempo das imagens pensado como jogo complexo do desejo do 'após-viver' (Nachleben)" (p. 66), na medida em que, em um mesmo gesto, dá lastro teórico-histórico a uma produção contemporânea e, com o uso precisamente do contemporâneo como pano de fundo, renova o que pode ser visto (e os modos de uso) nas teorias do passado. 

2) É justamente por conta de sua precariedade que o selo vale; ele deve ser sutil para que seja útil, para que não pese: Queen and Country é uma obra de arte de 2007 de Steve McQueen; consiste em um conjunto de 155 folhas de selos, cada folha homenageando um soldado morto na Guerra do Iraque entre 2003 e 2008 (a obra foi uma encomenda conjunta do Manchester International Festival e do Imperial War Museum, mas o governo recusa a proposta do artista de efetivamente usar os selos da obra de arte como selos comuns, de circulação tradicional).

3) Warburg, escreve Didi-Huberman, foi "o único grande historiador da arte a se interessar verdadeiramente pelos selos postais" (p. 73); foi um colecionador apaixonado; submeteu ao editor Teubner, em 1913, um projeto de livro sobre o tema; o selo, para Warburg, manifestava "ao menos duas das grandes potências antropológicas que ele se esforçava por tornar manifestas na história das imagens: a migração no espaço (Wanderung)" e a "migração no tempo (Nachleben)"; Warburg incluiu selos em seu Atlas, inclusive (além de ter feito ele próprio desenhos para selos que não se concretizaram), como mostrou uma exposição recente, "Aby Warburg and the Politics of the Stamp".

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