Um elemento central na ficção de Michel Houellebecq: o confronto entre público e privado e, para além do confronto, a incontornável fusão desses dois espaços. O "lar" só existe na medida em que reflete modelos sociais e midiáticos mais amplos - desde as comunas alternativas de Partículas elementares até a revolução doméstica islâmica de Submissão, a dimensão subjetiva dos personagens é sempre definida a partir de seu consenso ou dissenso diante das "tendências" (justamente o tipo de palavra-chave que Houellebecq de forma tão precisa sempre incorpora em suas histórias). O jargão publicitário acentua essa indistinção entre público e privado: é importante sentir-se em casa dentro do carro, no supermercado, na primeira classe dos aviões, nos destinos turísticos (e com ele o jargão empresarial, o executivo 24/7, para o qual o trabalho é a casa e vice-versa). Em Submissão, a casa-França se torna a casa-Europa - o presidente muçulmano da França não só transforma os lares (as mulheres fora do mercado de trabalho, a poligamia, os "valores" tradicionais nas escolas) como transforma a nação, diluindo sua especificidade francesa num projeto de Império europeu (europeidade essa que também é diluída com a inclusão de Marrocos, Tunísia, Egito e Turquia).
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