O Gigante em construção |
Existe outro lado da experiência dos balões, o lado que investe não no distanciamento da "realidade terrena", mas em sua reprodução paródica - ou seja, a reconstrução do ambiente burguês em meio às nuvens. Isso fica bastante evidente na descrição que Julian Barnes faz do balão projetado por Nadar:
Tournachon viajou com oito companheiros num aeróstato projetado por ele: "Eu vou construir um balão - o Balão Perfeito - de proporções extraordinariamente gigantescas, vinte vezes maior do que o maior". Chamou-o de O Gigante. Ele realizou cinco voos entre 1863 e 1867. Entre os passageiros deste segundo voo estavam a esposa de Tournachon, Ernestine, os irmãos aeronautas Louis e Jules Godard, e um descendente da família pioneira em balonismo, Montgolfier. Não foi registrado o tipo de comida que eles levaram. (...) Duzentos mil espectadores assistiram a sua primeira subida em que treze passageiros pagaram, cada um, mil francos; o cesto do aeróstato, que parecia um chalé de vime de dois andares, continha uma sala de refeições, camas, um banheiro, um departamento fotográfico e até mesmo uma sala de impressão para produzir folhetos comemorativos instantâneos.(Julian Barnes. Altos voos e quedas livres. Trad. Léa Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Rocco, 2014, p. 12-13).
A questão do interior burguês e sua fenomenologia é fundamental para a poética de Huysman, como se vê, por exemplo, em sua evocação de Odilon Redon. A mesma questão é fundamental para Baudelaire e comentada por Benjamin em Um lírico no auge do capitalismo. Poe, que se ocupou intensamente dos balões, também o fez com relação ao interior burguês e sua composição, chegando ao ponto de desenvolver uma "Filosofia da mobília" (No primeiro capítulo de La literatura nazi en América, Bolaño apresenta “Edelmira Thompson de Mendiluce”, autora do romance La habitación de Poe, de 1944, que “prefigurará o nouveau roman e muitas das vanguardas posteriores”, romance baseado precisamente nesse ensaio de Poe sobre a mobília).
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