2) A cena do protagonista de McEwan diante das fotos faz pensar em André Malraux escolhendo as imagens para seu livro Le Musée Imaginaire, editado pela primeira vez em 1947, mas que retorna em 1951 como primeiro tomo de um projeto mais amplo de Malraux, Les Voix du silence. Aquilo que em Malroux diz respeito à comunidade e ao coletivo, em McEwan, por outro lado, diz respeito ao núcleo familiar, a uma história "privada" das imagens (as imagens que interessam a Malraux são aqueles que, grosso modo, pertencem a todos; as imagens que interessam a Roland, o protagonista de McEwan, pertencem a ele, que é, ao mesmo tempo, curador, projetor e plateia).
3) Como interpretar esse paralelo? Oscilo entre um juízo que vê na cena privada uma sorte de diluição da potência epistemológica do gesto de Malraux (que até certo ponto pode ser aproximado do gesto de Warburg no Atlas Mnemosyne) e um juízo que generosamente vê na cena de Roland diante de suas fotos um esforço de McEwan de articular geral e particular, subjetivo e histórico, dentro de um bolsão de crítica-ficção no interior do romance (como faz Barthes em Fragmentos de um discurso amoroso, como faz Freud na Interpretação dos sonhos?). A rapidez da cena e a falta de aproveitamento narrativo são elementos que fortalecem o primeiro juízo; o segundo, por sua vez, é contemplado pela frase: Todos sabiam que a memória não funcionava assim, não era ordenada.
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