2) O olho do decifrador de signos encontra um ambiente inédito, algo que ele só havia visto nos livros, e a diferença se faz notar: "desejei ter binóculos para decifrar a opulência de folhas e flores que se prodigalizavam nos troncos e nos longos ramos", escreve Jünger em 17 de novembro de 1936, em Santos, lamentando a limitação dos sentidos e exaltando a virtualidade de uma prótese (ele já havia tratado do tema ainda a bordo, no dia cinco: "As fotografias e as filmagens dos passageiros na amurada chegam ao ponto culminante no momento em que o navio passa muito perto da margem, quase a tocando. Durante esse momento, que deveria ser inteiramente dedicado à união do olho com as coisas, as pessoas se ocupam com tais esquemas de captura e seus aparelhos. Isso mecaniza a lembrança").
3) Isso mecaniza a lembrança, escreve Jünger em seu comentário sobre as relações entre olho e prótese, condensando no próprio percurso de decifrador de signos os caminhos díspares de Walter Benjamin (que escreve a partir de Jünger o célebre ensaio sobre as "teorias do fascismo alemão") e Martin Heidegger (a correspondência publicada entre Jünger e Heidegger cobre o período de 1949 a 1975; além disso, Heidegger participa de um volume em homenagem a Jünger em 1955). É formidável como Jünger apresenta essa triangulação com Benjamin e Heidegger ("ser" e "tempo" atravessados e aproximados pela técnica, pela prótese, pelo dispositivo) a partir de um ponto extremo, um ponto extra-atlântico, latino-americano.
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