Gino Severini, Nord-Sud, 1913 |
2) Ainda que o modelo para essa dinâmica seja o paradigmático conto de Borges, "O sul" (especialmente em Blanco Nocturno), há uma carga política revestindo esse deslocamento geográfico, algo que extrapola tal modelo - ou que deve ser buscado em outros modelos caros a Piglia, especialmente Brecht (a epígrafe de Dinheiro queimado) e Gramsci. Há inclusive certa aproximação entre Gramsci, o intelectual visionário perseguido e encarcerado pelo fascismo (Piglia usa essa imagem em O último leitor), e Thomas Munk, o terrorista de O caminho de Ida, igualmente visionário e encarcerado, ambos profundamente comprometidos com visões e posturas revolucionárias diante do contexto que viviam.
3) Mas há um terceiro elemento, que é precisamente o tratamento retórico tanto do deslocamento geográfico quanto da carga política - algo que também acontece em Leonardo Sciascia, por exemplo. Gramsci, Sciascia, Piglia e Borges, cada um a seu modo, reservaram muita energia para o tema do deslocamento geográfico, sobretudo em sua articulação Norte-Sul - a questão meridional, a violência (os gauchos, a máfia), as fronteiras, os idiomas próprios (daí a importância do tratamento retórico, da percepção de como a linguagem se transforma na dimensão de influência desse deslocamento geográfico - os detetives tanto de Piglia quanto de Sciascia precisam, antes de tudo, ajustar o ouvido para perceber como aquilo que está sendo dito difere daquilo que não foi dito, que não pode ser dito).
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