1) Para Georges Didi-Huberman, o atlas é um dispositivo que deve ser constantemente montado, desmontado, remontado - explorado em suas intermináveis possibilidades de contato. O atlas pode ser uma ferramenta para compreender a violência política das imagens na história. O atlas é um ensaio de relação com o tempo, pois está sempre oscilando entre o virtual e o real, a potência e o devir.
2) As cadernetas de Meyer Schapiro são exemplos dessa oscilação: são documentos independentes, enigmáticos, ricos em possibilidades que estão na iminência de uma escolha, de uma montagem. As notas de Schapiro formam a substância primitiva do trabalho crítico posterior - servem como cristais de memória, resíduos do passado que invadem o momento da escritura, que é sempre uma tentativa de atualizar a experiência.
3) Cada fragmento do atlas de Schapiro leva a um momento muito específico e impossível de ser repetido - não se trata apenas de um monumento, vaso ou escultura, e sim de cada um desses elementos decantados pelo tempo e por uma observação direta, corporal, que é depois transformada em traço. É a sobrevivência de um pensamento mágico: o olho observa a materialidade da obra de arte e a mão deve reproduzir no papel aquilo que se vê - a partir daí, o objeto faz parte do corpo, está introjetado, familiarizado.
Ótimo.
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