1) Justamente por seu caráter lacunar e sucinto, I beati anni del castigo fica ainda mais sensível ao influxo de outros livros e autores. A narrativa transmite uma espécie de grau zero do estar-no-mundo - como se a narradora, ao resgatar seus anos de educação, seus anos de castigo, finalmente pudesse dar uma amostra do quão eficaz foi seu apagamento, de como sua vida futura foi determinada por suas vivências desses anos. A narrativa da memória mimetiza o próprio lugar onde os eventos aconteceram - e é particularmente inquietante descobrir, nas últimas linhas do romance, a dimensão da vacuidade desse espaço até então apenas relembrado.
2) Assim como no Jakob von Gunten de Walser, um casal toma conta do instituto - e a mulher tem o papel determinante: Frau Benjamenta para Walser, Frau Hofstetter para Jaeggy. O livro de Jaeggy é também um excelente exemplo daquilo que Roland Barthes definiu como o viver-junto: todo o campo ficcional que se forma a partir do arranjo contingente de corpos em um espaço restrito e povoado de tensões permanentes (no caso de A montanha mágica, de Thomas Mann, a tensão permanente é, do lado de dentro, a morte e, do lado de fora, a guerra; em I beati anni del castigo, a tensão vem daquilo que Jaeggy chama de "castigo", ou seja, a lenta, progressiva e inexorável transformação da espontaneidade infantil em conduta, cultura, educação).
2) Assim como no Jakob von Gunten de Walser, um casal toma conta do instituto - e a mulher tem o papel determinante: Frau Benjamenta para Walser, Frau Hofstetter para Jaeggy. O livro de Jaeggy é também um excelente exemplo daquilo que Roland Barthes definiu como o viver-junto: todo o campo ficcional que se forma a partir do arranjo contingente de corpos em um espaço restrito e povoado de tensões permanentes (no caso de A montanha mágica, de Thomas Mann, a tensão permanente é, do lado de dentro, a morte e, do lado de fora, a guerra; em I beati anni del castigo, a tensão vem daquilo que Jaeggy chama de "castigo", ou seja, a lenta, progressiva e inexorável transformação da espontaneidade infantil em conduta, cultura, educação).
3) No livro de Jaeggy, contudo, o viver-junto barthesiano está ligado ao Neutro - essa categoria de Blanchot que Barthes também retoma em um seminário. Na narrativa de Jaeggy (e também na do Walser de Jakob), o neutro se funda a partir da permanente simultaneidade de afirmação e negação - enquanto o tempo passa, as crianças crescem, as aulas acontecem, ou seja, ao mesmo tempo em que as experiências se acumulam e se encadeiam, há, como meta final dessa progressão, um esvaziamento, um silenciamento, uma celebração da impossibilidade de criar, de ser o que quer que se possa ser. Esse neutro, fundado na co-existência de fundação e destruição, só pode existir no ambiente restrito do instituto - um Neutro, portanto, que é filtrado e complexificado pelo viver-junto.
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