quinta-feira, 3 de maio de 2012

I beati anni del castigo

Aos quatorze anos eu estudava em um internato no Appenzell. Um lugar no qual Robert Walser havia feito muitas caminhadas quando estava no manicômio, em Herisau, não muito longe do nosso instittuto. Morreu na neve. Fotografias mostram suas pegadas e a posição do corpo na neve. Nós não conhecíamos o escritor. Nem mesmo nossa professora de literatura o conhecia. Às vezes penso como seria bonito morrer assim, depois de um passeio, deixar-se cair num sepulcro natural, na neve do Appenzell, depois de quase trinta anos de manicômio, em Herisau. É realmente uma pena que não soubéssemos da existência de Walser, teríamos levado uma flor para ele.

Fleur Jaeggy. I beati anni del castigo.
Milano: Adelphi, 1989, p. 9
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A primeira vez que li o nome "Fleur Jaeggy" foi em Doctor Pasavento, o romance de Vila-Matas. Escrevendo em espanhol, Vila-Matas cita o título do livro em francês, Les années bienheureuses du châtiment - um livro escrito originalmente em italiano, publicado em 1989. Grande parte do fascínio de Doctor Pasavento está em sua maníaca perseguição a Robert Walser, e tudo que Vila-Matas fala sobre o livro de Jaeggy é que se passa rigorosamente no mesmo lugar em que Walser viveu suas últimas décadas de vida. Primeiro pensei que fosse um livro inventado por Vila-Matas, como tantos outros. Quando verifiquei a autenticidade de Fleur Jaeggy e I beati anni del castigo, passei a imaginar como seria uma narrativa que toma como ponto de partida a geografia crepuscular de Robert Walser. Depois de finalmente ler o livro, descubro que esse caráter parasitário é apenas a superfície - o cerne é muito maior, feito de angústia, vazio e um silencioso desespero diante daquilo que poderíamos chamar, no sentido que dava Gombrowicz a essa palavra, de maturidade.

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