
2) Nas duas versões cinematográficas de Os homens que não amavam as mulheres, baseadas no livro de Stieg Larsson, uma cena se repete: o assassino, finalmente revelado, começa o seu clássico discurso explicativo (as vítimas, as razões, etc) e mostra uma pequena jaula ao protagonista. "No outro dia, enquanto tomávamos vinho lá em cima", diz o assassino, "havia uma mulher ali dentro". A cena se passa no porão da casa, uma sala ampla cheia de instrumentos de tortura. A mulher da jaula não aparece, já está morta. Mas o espectador tem uma desagradável sensação de cumplicidade com o assassino, porque, de certa forma, assistiu a cena do vinho sem sequer suspeitar que uma mulher era torturada lá embaixo (e agora que sabe, o espectador se sente retrospectivamente culpado por sua falta de atenção).
3) Em Noturno do Chile, a novela de Roberto Bolaño, o padre, crítico literário e poeta Sebastián Urrutia Lacroix é também levado a essa cumplicidade horrenda e tão paradoxal. A cumplicidade do padre Sebastián se dá pela via da vaidade: é convidado a participar de uma espécie de grupo de leituras organizado por um casal da intelectualidade chilena de esquerda. Um dia, no entanto, procurando o banheiro, Sebastián desce as escadas e descobre uma porta no porão, uma porta que leva a uma cela, uma cela que guarda o corpo torturado de um homem anônimo. O sarau, no fim das contas, é apenas uma fachada para melhor identificar os intelectuais subversivos - e entregá-los para a ditadura de Pinochet.
3) Em Noturno do Chile, a novela de Roberto Bolaño, o padre, crítico literário e poeta Sebastián Urrutia Lacroix é também levado a essa cumplicidade horrenda e tão paradoxal. A cumplicidade do padre Sebastián se dá pela via da vaidade: é convidado a participar de uma espécie de grupo de leituras organizado por um casal da intelectualidade chilena de esquerda. Um dia, no entanto, procurando o banheiro, Sebastián desce as escadas e descobre uma porta no porão, uma porta que leva a uma cela, uma cela que guarda o corpo torturado de um homem anônimo. O sarau, no fim das contas, é apenas uma fachada para melhor identificar os intelectuais subversivos - e entregá-los para a ditadura de Pinochet.
Nenhum comentário:
Postar um comentário