2) Erman define Brichot como um "filólogo distinto e confinado no saber", contribuindo para esvaziar a realidade de sua parte de poesia quando levanta os erros de pronúncia dos habitantes de Combray e restabelece as etimologias em sua exatidão (mais um avatar de uma discussão plurissecular: a distância entre aqueles que se ocupam do pensamento e aqueles que se ocupam das atividades práticas, mente x corpo, e assim por diante). A cegueira que o toma, continua Erman, pode ser interpretada, no plano simbólico, como a prova de que a inteligência é inapta para apreender a realidade. Ao saber racional, o narrador oporá o poder da impressão, que é o fato de uma consciência dedicada ao mundo.
3) Como antídoto ao filólogo pedante, é possível resgatar um filólogo brilhante e sensível, que se ocupou de Proust: "A crônica da vida interior flui com equilíbrio épico, feita que é apenas de rememoração e auto-observação. Esta é a verdadeira epopeia da alma, na qual a própria verdade envolve o leitor num sonho longo e doce, cheio de um sofrimento que também liberta e tranquiliza; este é o verdadeiro páthos da existência terrena, que nunca cessa e sempre flui, que sempre nos oprime e sempre nos impele" (Erich Auerbach, "Marcel Proust: o romance do tempo perdido", Ensaios de literatura ocidental, trad. Samuel Titan Jr, José Marcos Mariani de Macedo, ed. 34, 2007, p. 340).
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