1) É preciso apreciar a obra de arte partindo do procedimento que ela própria engendra e coloca em funcionamento - outras obras e outros procedimentos servem, até certo ponto, como pontos de fuga e linhas de contraste (como um perito na cena de um crime que, diante de um traço qualquer - um objeto esquecido, uma pegada, o fragmento de algum corpo -, coloca um elemento conhecido - uma caneta Bic, uma cédula de dinheiro - para dar a perspectiva necessária para a fotografia (o recurso que permite levar a cena do crime para outro lugar).
2) No caso do livro de Michele Mari, Todo o ferro da Torre Eiffel, a proximidade da trama ficcional com fatos históricos (e, ainda mais especificamente, a escolha de Walter Benjamin como personagem) abre no mínimo duas possibilidades de contraste: Sebald e Thomas Pynchon. A escolha do período histórico leva a Sebald; o estilo e a liberdade com elementos fantásticos leva a Pynchon - Mari faz uma sorte de Arco-íris da gravidade com o foco mais restrito (somente Paris em 1936 - mas o faz com uma profusão de personagens e histórias paralelas que toca o universo de Pynchon).
3) Talvez o que esteja em jogo é o grau de ilusão de certeza histórica que a ficção potencialmente oferece ao leitor. Nesse sentido, Sebald e Pynchon estão mais próximos do que se poderia imaginar: enquanto o primeiro defende a nudez completa da ignorância e parcialidade do narrador (com a tomada de posição a partir do traço e da documentalidade, como na História natural da destruição), o segundo alcança o mesmo efeito a partir do absurdo, do acúmulo, da construção ficcional de um "real" completamente esvaziado (como se devolvesse o "real" à sua condição postiça, sua condição de prótese, de evasão).
3) Talvez o que esteja em jogo é o grau de ilusão de certeza histórica que a ficção potencialmente oferece ao leitor. Nesse sentido, Sebald e Pynchon estão mais próximos do que se poderia imaginar: enquanto o primeiro defende a nudez completa da ignorância e parcialidade do narrador (com a tomada de posição a partir do traço e da documentalidade, como na História natural da destruição), o segundo alcança o mesmo efeito a partir do absurdo, do acúmulo, da construção ficcional de um "real" completamente esvaziado (como se devolvesse o "real" à sua condição postiça, sua condição de prótese, de evasão).
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