O número de suas fotografias já alcança a casa dos milhares e, no seu arquivo, é possível encontrar fotos de livros, sapatos e pinturas a óleo, pianos e torradeiras, bonecas, aparelhos de chá e meias sujas, televisores e jogos de tabuleiro, vestidos de baile e raquetes de tênis, sofás, lingerie de seda, pistolas para calafetar fissuras, percevejos, bonequinhos de plástico de heróis infantis, batons, fuzis, colchões desbotados, facas e garfos, fichas de pôquer, uma coleção de selos e um canarinho morto no fundo de uma gaiola.
Ele não tem a menor ideia do motivo por que se sente compelido a tirar essas fotos. Compreende que é uma busca vã, sem nenhum possível benefício para ninguém, e mesmo assim toda vez que entra numa casa sente que as coisas chamam por ele, falam com ele nas vozes das pessoas que não estão mais ali, pedem a ele para serem olhadas pela última vez, antes de serem descartadas.
Paul Auster. Sunset Park.
Tradução de Rubens Figueiredo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 9
Tradução de Rubens Figueiredo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 9
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