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Chega um momento em que
o livro de Michele Mari fica enfadonho - um pouco depois da metade, quando o acúmulo de personagens e tramas fica excessivo, deixando a história derivativa e um pouco sem pé nem cabeça. Mari quer falar de tudo - tudo que lhe parece importante no contexto de Walter Benjamin nos anos 1930: vanguardas, autômatos, passagens, colecionismo, bibliotecas, homens em fuga, cidades, conspirações, esoterismo, satanismo, suicídio, nazismo, escritores obscuros, manuscritos perdidos, jogos de xadrez. Há uma pesquisa vasta dando base ao livro, mas não há costura, traçado, escolha - talvez a falta de um editor ou, numa especulação um pouco mais profunda, faltou o tipo de auto-consciência criativa que leva a
cortar, e não a acrescentar; que leva a
silenciar. Algo no sentido do que pretendia Cortázar quando dizia que escrevia com a tesoura - cortando a própria carne
na escritura, como pensava Deleuze. Não há dúvida de que
Todo o ferro da Torre Eiffel é o duplo monstruoso de
História abreviada da literatura portátil, de Vila-Matas. Ambos transitam pelo mesmo período, compartilham algumas ideias e muitos personagens (Roussel, Duchamp, Benjamin), mas o tratamento formal e estilístico é completamente diverso: Vila-Matas é conciso, documental, lacunar, salientando as conexões só até certo ponto, enquanto Mari espalha os detalhes ao máximo, revelando minúcias, indo e voltando com histórias que não se completam.
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