Estetização da política, politização da arte, como sintetizou Walter Benjamin. Uma alternativa que não funciona sem a outra - nem tanto contrárias, mas complementares, sístole e diástole de um mesmo movimento. Mais do que uma característica do fascismo e seus desdobramentos, seria essa conjunção estetização-politização uma espécie de dispositivo, no sentido de Foucault, Deleuze ou Agamben? Algo que não diz respeito somente a um período histórico, mas que atravessa a todos eles, modulando e tensionando a relação entre arte e política? É algo que Georges Bataille já encontrava nas moedas gregas, por exemplo (no ensaio O cavalo acadêmico, entre outros).
No filme Werk ohne Autor, de Florian Henckel von Donnersmarck, o protagonista é um pintor alemão que começa sua carreira no imediato pós-guerra - fazendo murais no estilo do realismo socialista. Depois que escapa para a Alemanha Ocidental, demora ainda para encontrar um novo estilo, que finalmente chega como um avesso do início: depois de tentar escultura, action painting, espacialismo e outras técnicas da moda, ele retorna à pintura de cavalete depois de ver no jornal a foto de um nazista recentemente preso. Ele repete a fotografia massificada do jornal em uma pintura única, ampliando manualmente, durante horas, aquilo que foi feito automaticamente em um fragmento de segundo.
Em seu filme Loro, sobre Silvio Berlusconi, Paolo Sorrentino em determinado momento coloca o político diante da televisão, diante de si próprio multiplicado quatro vezes em quatro aparelhos diferentes, cada um deles reproduzindo uma tomada distinta de um pronunciamento seu. Baseado em algum detalhe capturado pelo olhar treinado por décadas de politização da arte e estetização da política, Silvio escolhe uma das tomadas, sendo advertido pelo assistente que naquela gravação específica ele não mencionava um assunto importante - "não importa", o político responde, "a dona de casa olhará para esse e dirá: eu daria para ele".
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