quinta-feira, 23 de maio de 2019

Vico, Joyce, Foucault

1) A relação entre Joyce e a história, ou entre Dedalus e a história como pesadelo (uma ideia apresentada no capítulo dedicado à História no Ulisses e que se passa dentro de uma sala de aula), deve levar em consideração o contato entre Joyce e Vico.  Uma relação que leva em consideração um desejo de pensar as continuidades tensas dentro da história e não uma teleologia compulsória, que organiza de forma naturalizada o devir histórico.
2) A ficção de Joyce - confusa, caótica, desafiante - busca dar conta da irracionalidade que segue reverberando em toda racionalidade: os resíduos do passado ainda vivos e operantes no presente não devem ser eliminados, como quer o positivismo (ou a história dos vencedores tal como a apresenta Walter Benjamin, por exemplo), mas apresentados em toda sua potência e impureza (Homero na Dublin de 1904).
3) Para usar a terminologia do Foucault de A ordem do discurso (1970-71), é possível dizer que Vico não estava no verdadeiro do seu contexto imediato, sua obra não se inseria no verdadeiro instaurado pelo Iluminismo, pois Vico pregava uma continuidade, um isomorfismo entre irracional e racional, passado e presente (um pouco como Lévi-Strauss fará com o par "selvagem" x "civilizado" em O pensamento selvagem, de 1962), enquanto as Luzes buscavam a ruptura, a cisão, o make it new radical. 

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