sábado, 10 de fevereiro de 2018

Bellow, Oraibi

1492. 
Colombo na América 
Morre Piero della Francesca 
1493. 
Nasce Paracelso 
1494. 
Nasce Rabelais 
Morrem Memling e Poliziano
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Essa dupla deriva presente no Renascimento na Europa: por um lado, em direção à Antiguidade; por outro, em direção ao Novo Mundo, ao insólito e exótico. E não se deve nunca esquecer como um eixo complementa e interfere no outro, de modo que a Antiguidade é sempre atravessada pelo Novo Mundo, e vice-versa. Daí a sabedoria de Aby Warburg ao traduzir Atenas em Oraibi em 1923, modificando o verso do Fausto de Goethe (do Harz à Grécia, todas são primas/Atenas e Oraibi, todas são primas). Nenhuma disciplina ou discurso ignora o Novo Mundo, ele reconfigura termos e procedimentos (como escreve Carlo Ginzburg: "O choque com os indígenas pueblo permitiu a Warburg analisar o Renascimento italiano numa perspectiva vigorosa e originalíssima, hoje mais viva do que nunca"). 
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É possível rastrear esse encadeamento de situações até a obra de Saul Bellow, por exemplo. No romance Henderson the Rain King, de 1959, Bellow apresenta a transformação da ideia de cultura nos Estados Unidos do pós-guerra: cultura não mais como "refinamento", mas como um complexo arranjo de modos de vida. No conto "Cousins", o narrador de Bellow, Ijah Brodsky, passa muito tempo envolvido com o material etnográfico produzido por Franz Boas em 1900, na Expedição Jesup North Pacific para a Sibéria, com as tribos Chukchee e Koryak. Bellow, de resto, se formou em Antropologia e Sociologia na Northwestern University, em 1937. Com o passar do tempo, contudo, Bellow tornou-se um crítico do que chamava "multiculturalismo", defendendo um conservadorismo cultural à moda de Harold Bloom. Teria dito em entrevista: "Who is the Tolstoy of the Zulus? The Proust of the Papuans? I'd be glad to read him" (algo que faz pensar no procedimento de Colombo, querendo encontrar nas Américas aquilo que imaginava estar lá esperando por ele). Em nota relacionada, é possível relembrar que Christopher Hitchens (em Arguably: Essays) chama Bellow de The Great Assimilator.

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