terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Blanchot, Broch, Derrida

A morte de Virgílio, de Hermann Broch, alcança Blanchot por conta da percepção que transmite, percepção de um corte da experiência, ou ainda, da inauguração incessante de uma experiência de morte - porque Virgílio não cessa de morrer, essa é a leitura que Blanchot faz do romance de Broch. E alcança Blanchot também por seu posicionamento histórico dramático e preciso - 1945 - e toda ressonância que essa posição provoca no próprio Blanchot - basta lembrar O instante da minha morte, conto que Blanchot publica em 1994, mas que remonta à sua experiência de quase morte diante de um pelotão de fuzilamento nazista, resgatado e comentado por Derrida em Demeure.
*
Como faremos para desaparecer?, essa é a pergunta que dá o norte de O livro por vir, que sob certa perspectiva se apresenta como o relatório de Blanchot - feito de vários fragmentos, de vários comentários sobre outros livros e outras buscas - acerca daquilo que encontrou (ou não) em sua busca pela experiência da morte (e seus variados avatares - a exaustão, o neutro, o silêncio, o vazio). Sobre Mallarmé, em O livro por vir, Blanchot escreve: "o poeta desaparece sob a pressão da obra pelo mesmo movimento que faz desaparecer a realidade natural" (trad. Leyla Perrone-Moisés, WMF Martins Fontes, 2013, p. 334). Por isso a recorrência desses momentos de suspensão na escrita crítica de Blanchot, sua deliberada e meticulosa seleção de momentos de suspensão - o tênue fio que liga sentido e não-sentido em sua discussão sobre o símbolo (Mallarmé, Valéry); a espera de Godot em Beckett; a porta da Lei em Kafka; a morte como recorrência e imagem poético-histórica em Hermann Broch.

Nenhum comentário:

Postar um comentário