sábado, 2 de junho de 2012

Warburg e Benjamin

 1) Um curioso elemento não-acadêmico (por vezes até anti-acadêmico) é um dos pontos de contato entre dois pensadores que, ironicamente, são amplamente aproveitados no discurso acadêmico contemporâneo: Aby Warburg e Walter Benjamin. Ambos vivenciaram um paulatino distanciamento da universidade, instituição que aparecia, na época, como o lugar natural para o desenvolvimento de seus respectivos projetos. Formados no trânsito inter-universitário típico da época, sob o frequente influxo de professores reputados e já estabelecidos, terminaram como desertores universitários. 
2) Benjamin, depois dos inesperados insucessos docentes, se refugiou no jornalismo e no mercado editorial. Warburg, que havia renunciado aos seus direitos de primogenitura em troca de receber todos os livros que pedisse, conseguiu metamorfosear a instituição acadêmica segundo sua vontade, forjando uma espécie de campo de pesquisa feito rigorosamente a partir das feições de seus interesses - o que levou à criação do Instituto com seu nome (profundamente multidisciplinar até os dias de hoje). 
3) Contudo, a proximidade é apenas superficial - diz respeito somente ao caráter nômade, inquieto e extraterritorial das pesquisas e posturas de ambos. Talvez os recursos abundantes de Warburg tenham determinado o ponto distintivo fundamental entre ele e Benjamin, que poderia ser descrito como uma sorte de rigor ou de organização residual da obra póstuma - nas variáveis desenvolvidas por Benjamin em sua obra sobre as Passagens (um repertório caótico de forte carga vanguardista, mas de utilidade restrita, quase pessoal) é difícil reconhecer uma teoria do símbolo artístico afim ao projeto de Warburg e seu Atlas (porém, algumas afinidades são poderosas, como a particular releitura anacrônica de períodos históricos - Warburg com o Renascimento, Benjamin com o Barroco).
 

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