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 1) Em seu ensaio sobre Walser (Serrote, 5), Sebald diz que foi com muito cuidado que ele se aproximou da obra de Robert, sempre pelas bordas, nunca com muita urgência. Para Sebald, Walser lembrava seu avô - eles morreram no mesmo ano, 1956. Sobre a morte de seu avô, Sebald escreve: nunca fui capaz de superar. A julgar pelas fotos que acompanham o ensaio, foi o avô quem passou ao pequeno Sebald o gosto pelas caminhadas. Lá está ele, de calças curtas, segurando um pedaço de pau, de mãos dadas com o avô, olhando para a câmera (será que estava num tripé? será que havia uma terceira pessoa?).
1) Em seu ensaio sobre Walser (Serrote, 5), Sebald diz que foi com muito cuidado que ele se aproximou da obra de Robert, sempre pelas bordas, nunca com muita urgência. Para Sebald, Walser lembrava seu avô - eles morreram no mesmo ano, 1956. Sobre a morte de seu avô, Sebald escreve: nunca fui capaz de superar. A julgar pelas fotos que acompanham o ensaio, foi o avô quem passou ao pequeno Sebald o gosto pelas caminhadas. Lá está ele, de calças curtas, segurando um pedaço de pau, de mãos dadas com o avô, olhando para a câmera (será que estava num tripé? será que havia uma terceira pessoa?). 1) "Uma nota sobre método em Dolf Oehler" quer dizer, além daquilo que já diz diretamente (por mais impossivelmente "direta" que possa ser a língua), uma anotação à margem de um movimento interpretativo feito por Oehler, que pretende se inserir em sua lógica e escandir ao máximo seu movimento, como numa decupagem.
1) "Uma nota sobre método em Dolf Oehler" quer dizer, além daquilo que já diz diretamente (por mais impossivelmente "direta" que possa ser a língua), uma anotação à margem de um movimento interpretativo feito por Oehler, que pretende se inserir em sua lógica e escandir ao máximo seu movimento, como numa decupagem. Na caixa de comentários do dia 28 de fevereiro, foi levantada a possibilidade de ler Kafka a partir do gerenciamento de dejetos - uma leitura sistemática de Kafka que levasse em conta toda essa dimensão do resto, do trapo, do excremento e de tudo aquilo que sobre, que excede. Como na história do homem que transporta as ruínas de uma casa de um lado para o outro, terminando ao relento; como na história do café da manhã formado das sobras de outros cafés da manhã. Há sempre um animal que administra os restos de uma presa, os escombros de uma toca, o entulho de algum túnel. Há sempre um viajante que afirma não precisar de qualquer provisão, há sempre um objeto escondido. Uma nota de O mal-estar na civilização, de Freud, apresenta a questão de forma bastante ilustrativa:
Na caixa de comentários do dia 28 de fevereiro, foi levantada a possibilidade de ler Kafka a partir do gerenciamento de dejetos - uma leitura sistemática de Kafka que levasse em conta toda essa dimensão do resto, do trapo, do excremento e de tudo aquilo que sobre, que excede. Como na história do homem que transporta as ruínas de uma casa de um lado para o outro, terminando ao relento; como na história do café da manhã formado das sobras de outros cafés da manhã. Há sempre um animal que administra os restos de uma presa, os escombros de uma toca, o entulho de algum túnel. Há sempre um viajante que afirma não precisar de qualquer provisão, há sempre um objeto escondido. Uma nota de O mal-estar na civilização, de Freud, apresenta a questão de forma bastante ilustrativa:A retração dos estímulos olfativos parece consequência do afastamento do ser humano da terra, da decisão de andar ereto, que fez os genitais até então escondidos ficarem visíveis e necessitados de proteção, despertando assim o pudor. No começo do decisivo processo de civilização estaria, portanto, a adoção da postura ereta pelo homem. O encadeamento parte daí, através da depreciação dos estímulos olfativos e do isolamento da menstruação, até a preponderância dos estímulos visuais, a visibilidade que obtêm os órgãos genitais, chegando à continuidade da excitação sexual, à fundação da família, e com isso ao limiar da cultura humana.
Também é inequívoca a presença de um fator social no esforço cultural pela limpeza, que acha uma justificação posterior em considerações higiênicas, mas já se manifestava antes delas. O impulso à limpeza vem do afã para eliminar os excrementos, que se tornaram desagradáveis à percepção sensorial. Sabemos que é diferente com os bebês. Os excrementos não despertam neles aversão; parecem-lhes valiosos, uma parte que se desprendeu do seu próprio corpo. Nisso a educação intervém com particular energia, apressando o estágio seguinte do desenvolvimento, que deve tornar os excrementos sem valor, repugnantes, nojentos e condenáveis. Tal inversão de valor não seria posível, caso essas substâncias expelidas do corpo não fossem condenadas, por seus fortes odores, a partilhar o destino reservado aos estímulos olfativos depois que o ser humano adotou a postura ereta. Portanto, o erotismo anal sucumbe primeiramente à "repressão orgânica", que abriu o caminho para a cultura. O fator social, que cuida da posterior transformação do erotismo anal, mostra-se no fato de que, não obstante todos os progressos evolutivos do ser humano, dificilmente ele acha repulsivo o cheiro de suas próprias fezes, apenas o daquelas de outras pessoas. Quem é sujo, isto é, quem não esconde os próprios excrementos, ofende o outro, não demonstra respeito por ele, o que também é confirmado pelos mais fortes e mais usuais xingamentos. Pois seria incompreensível o fato de o homem utilizar o nome do seu mais fiel amigo no reino animal como termo de insulto, se o cachorro não provocasse o desprezo por duas características: ser um animal de olfato, que não tem horror aos excrementos, e não se envergonhar de suas funções sexuais.
 A mãe foi atriz do cinema mudo. O pai fabricava barcos de brinquedo. Com 10 anos, Ruth ganhou sua primeira máquina fotográfica - custava 39 centavos. Isso foi em 1931, lá pelas voltas de Los Angeles. Em 1938, Ruth pegou sua bicicleta e foi até Nova York, fotografando pelo caminho. Ruth queria ver a Feira Mundial (o nylon era então anunciado ao mundo como uma nova seda sintética).  Quatro anos depois ela já estava morando na cidade, tirando fotos de bebês, trabalhando à noite e economizando para comprar sua primeira câmera profissional. As fotos ficaram melhores e ela arranjou trabalho nas principais revistas da época. Em 1951, às custas da revista LIFE, vai para Israel, depois Itália, França, Inglaterra, fotografando lagos, praias, aglomerações, cadeiras de praia vazias. Quando voltou a Nova York, casou com um sujeito que também fotografava e fazia filmes. Eles foram morar perto do Central Park, Ruth afastou-se do fotojornalismo e dedicou grande parte de sua vida profissional, a partir de 1955, a registrar o que via de seu apartamento no 15º andar do Central Park West, 65. Reunidos no livro A world through my window, lançado em 1978, os resultados transmitem a satisfação de Ruth com o que ela considerava uma maneira ideal e duradoura de conciliar os desejos da fotógrafa com os desejos da dona de casa e mãe. Toda dia ela abria a janela da sala e fotografava o que via:
A mãe foi atriz do cinema mudo. O pai fabricava barcos de brinquedo. Com 10 anos, Ruth ganhou sua primeira máquina fotográfica - custava 39 centavos. Isso foi em 1931, lá pelas voltas de Los Angeles. Em 1938, Ruth pegou sua bicicleta e foi até Nova York, fotografando pelo caminho. Ruth queria ver a Feira Mundial (o nylon era então anunciado ao mundo como uma nova seda sintética).  Quatro anos depois ela já estava morando na cidade, tirando fotos de bebês, trabalhando à noite e economizando para comprar sua primeira câmera profissional. As fotos ficaram melhores e ela arranjou trabalho nas principais revistas da época. Em 1951, às custas da revista LIFE, vai para Israel, depois Itália, França, Inglaterra, fotografando lagos, praias, aglomerações, cadeiras de praia vazias. Quando voltou a Nova York, casou com um sujeito que também fotografava e fazia filmes. Eles foram morar perto do Central Park, Ruth afastou-se do fotojornalismo e dedicou grande parte de sua vida profissional, a partir de 1955, a registrar o que via de seu apartamento no 15º andar do Central Park West, 65. Reunidos no livro A world through my window, lançado em 1978, os resultados transmitem a satisfação de Ruth com o que ela considerava uma maneira ideal e duradoura de conciliar os desejos da fotógrafa com os desejos da dona de casa e mãe. Toda dia ela abria a janela da sala e fotografava o que via: 
 1) Para Peter Sloterdijk, o filme O massacre da serra elétrica marca um ponto de contato entre o arcaico e o moderno. O curioso é que a história do filme se passa no ano de 1973, que, conforme vimos por aqui, é um marco de encerramento do modernismo. Mas não importa - o ponto de Slotedijk é que com O massacre da serra elétrica passamos a experimentar o horror e a violência em níveis semelhantes àqueles encontrados nos espetáculos romanos de morte e carnificina. Não é à toa que a ação de Massacre se dê nas voltas de um matadouro. Mas esse também não é o ponto de Sloterdijk - a reflexão sobre os espetáculos romanos ocupa duas páginas, e a menção ao filme está em uma nota de rodapé. Mas é pra isso que servem as notas de rodapé: para despertar a curiosidade.
1) Para Peter Sloterdijk, o filme O massacre da serra elétrica marca um ponto de contato entre o arcaico e o moderno. O curioso é que a história do filme se passa no ano de 1973, que, conforme vimos por aqui, é um marco de encerramento do modernismo. Mas não importa - o ponto de Slotedijk é que com O massacre da serra elétrica passamos a experimentar o horror e a violência em níveis semelhantes àqueles encontrados nos espetáculos romanos de morte e carnificina. Não é à toa que a ação de Massacre se dê nas voltas de um matadouro. Mas esse também não é o ponto de Sloterdijk - a reflexão sobre os espetáculos romanos ocupa duas páginas, e a menção ao filme está em uma nota de rodapé. Mas é pra isso que servem as notas de rodapé: para despertar a curiosidade.