1) Em seu livro Niño enterrado, de 2016 (Buenos Aires: Entropía), Edgardo Cozarinsky organiza uma série de fragmentos autobiográficos em breves seções de títulos variados: "Rastros", "Cinzas", "Cidades", "Profetas", "Tradução" e assim por diante. A voz narrativa fala de um homem na terceira pessoa: Cozarinsky chama a si próprio de "ele", se distancia. Ao falar de Londres e dos ingleses, de sua primeira visita a Londres, Cozarinsky conta uma anedota saborosa, incorporando-a à subseção de seu livro que intitula "Cidades onde aprendi algo".
2) O ano é 1967, "ele" está em Londres pela primeira vez e vai almoçar em um "clube inglês" com um desconhecido, amigo de seu professor de inglês em Buenos Aires (eram anos em que um viajante ainda levava "cartas de apresentação", escreve Cozarinsky). Agasajado con sherry durante la conversación previa en la biblioteca, con claret durante el almuerzo y cognac en el café, minutos más tarde debió acudir al baño de ese exclusivo reducto para vomitar con entusiasmo. O fragmento todo parece construído com o intuito de provar a afirmativa inicial: em Londres, "ele" aprende algo sobre a "elegância moral" como uma "estética da conduta": entre outras manifestações, poner cómodo a quien no lo está (p. 46).
3) Enquanto vomita no banheiro do clube, o rapaz nota que há outra pessoa no banheiro que, para aliviar o incômodo da situação, começa a elaborar observações em voz alta a respeito do banheiro: muito sensato por parte do clube manter as instalações e não querer modernizá-las, diz o homem no banheiro, escreve Cozarinsky; tudo isso é mármore, mármore autêntico; luego, bajando la vista (aqui, a única desafinação do relato: se "ele" estava no banheiro vomitando, como sabe que o sujeito baixou a vista? Ou seria essa uma intervenção do narrador onisciente que fala "dele"?): por comparación mi pobre pito parece bastante gastado (e nesse ponto, Cozarinsky oferece o que seria o original em inglês, que "ele" teria escutado no banheiro: By comparison, my poor cock looks rather shabby).
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