2) Esse conjunto de diferenças marca a emergência de três poéticas independentes (Munro, Jelinek, Müller, digamos) e de grande força estética, que são contemporâneas, mas que trabalham com estratégias de representação muito características. Isso seria bastante óbvio se não fosse pelo fato de tanto Jelinek e Müller quanto Alice Munro trabalharem com temas afins – memória, trauma, traição, família –, que adquirem tonalidades específicas mediante o tratamento técnico levado adiante por cada uma das escritoras. Em Munro, esses temas centrais recebem uma pátina de afetividade, quase que de cuidado materno, o que fica evidente na proximidade que sua narração estabelece com os dramas familiares, em seu encadeamento minucioso das sensações criadas e cultivadas a partir de breves gestos cotidianos.
3) Parte do apelo afetivo da ficção de Alice Munro está em sua dimensão doméstica, na escolha de situações e imagens que se dão frequentemente entre membros de uma mesma família, em um ambiente carregado de peso memorialístico. Não vemos tragédias de amplas proporções, que terminam por refletir a "condição nacional geral", como nos livros de Philip Roth ou Norman Mailer (como em The Great American Novel, romance publicado pelo primeiro em 1973, que comenta essa pulsão romanesca no interior do próprio romance, desde o título), mas breves gestos e resoluções que vão, pouco a pouco, minando ou reconstruindo relações.
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