sábado, 18 de janeiro de 2020

Stauffenberg

Na sexta lição de Elizabeth Costello (no livro de mesmo nome, publicado por J. M. Coetzee em 2003) a questão tratada é aquela do "problema do mal". Ela se declara "sob o mau feitiço" [under the evil spell] de um romance de Paul West, The Very Rich Hours of Count von Stauffenberg, sobre o oficial aristocrata (Claus Philipp Maria Schenk Graf von Stauffenberg, 1907-1944) que liderou o complô para matar Hitler em julho de 1944. Costello está impressionada com o romance e, ao mesmo tempo, horrorizada com a descrição da violência cometida pelo carrasco de Hitler na execução dos conspiradores. Segundo Costello, a representação da violência levada a cabo por West é obscena, não deveria ser pensada, escrita ou lida.
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Em seu livro de 2017, Autoritratto nello studio, Agamben comenta que a mentalidade, o estilo e os interesses de Walter Benjamin não podem ser adequadamente compreendidos sem levar em consideração sua aproximação ao círculo de Stefan George. Aproximação e, em seguida, distanciamento, uma vez que muito cedo Benjamin se deu conta, escreve Agamben, que o círculo de George era composto de uma geração "predestinada à morte". Valorizavam uma "Alemanha secreta", mas, ainda assim, uma "Alemanha" (ou seja, um ideal nacional sobreposto à vida). Havia uma subterrânea solidariedade entre as duas Alemanhas (a secreta e a oficial), escreve Agamben, e um sinal dessa solidariedade "é o fato que o atentado a Hitler de 20 de julho de 1944, obra de um oficial que provinha do círculo de George, estivesse fadado a falhar" (p. 106-107). 

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