quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Balões, 3

O próprio Odilon Redon, o autor do desenho que mistura o olho ao balão, era também um leitor de Poe, tão dedicado quanto Baudelaire e Valéry. Em 1882, Redon lança um pequeno volume pela editora G. Fischbecher, de Paris, contendo 6 gravuras e intitulado A Edgar Poe. O volume se abre justamente com a imagem do balão-olho, L'oeil, comme un ballon bizarre se dirige vers l'infini. É claro que Redon não ilustra as histórias de Poe; o que parece estar em questão é uma espécie de transposição, ou ainda, um tipo de convivência subjetiva que extrapola a lógica convencional do tempo e do espaço. A prática artística de Redon é articulada em contato direto com a literatura, não apenas Poe e Baudelaire, mas sobretudo o Flaubert de La Tentation de saint Antoine (que é de 1874 - e, numa nota relacionada, é possível relembrar Julian Barnes, que foi quem primeiro falou de Redon, outro leitor de Flaubert que não procura a ilustração, e sim a construção criativa de um espaço de convivência com aquilo que não existe mais). Dario Gamboni, professor de história da arte na Universidade de Genebra, dedicou um livro inteiro à relação de Redon com a literatura, La Plume et le pinceau, de 1989 (mais uma vez, a ênfase de Gamboni não está na possibilidade de ilustração ou adaptação entre texto e imagem, e sim no espaço de convivência possível em fins do século XIX e início do XX no que diz respeito às várias formas artísticas).

Nenhum comentário:

Postar um comentário