quarta-feira, 1 de junho de 2011

Arquivo e discurso

Falando sobre a mídia eletrônica e sobre a vertiginosa disseminação dos ditos e escritos na contemporaneidade, Edward Said (ainda em Humanismo e crítica democrática) escreve o seguinte: As nossas ideias atuais de arquivo e discurso devem ser radicalmente modificadas e já não podem ser definidas como Foucault a duras penas tentou descrevê-las apenas há duas décadas [o texto de Said é de 2002; Arqueologia do saber, de Foucault, é de 1969]. Said fala que um artigo seu, escrito em Nova York para um jornal britânico, pode ser replicado por incontáveis pessoas em páginas pessoais e aparecer em todos os continentes. A partir disso, como definir um leitor possível para aquilo que é escrito? Impossível (sequer necessário). Quando li o trecho sobre Foucault, pensei: 1) radicalmente modificadas é a proposta de uma tarefa bastante exaustiva; 2) no mesmo gesto, ele recusa e incorpora Foucault, sem necessariamente apontar um novo rumo; ele apenas enuncia a lacuna; 3) o esforço de Foucault - "duras penas" - foi apenas uma tentativa - "tentou descrevê-las" - e caducou rapidamente; 4) uma modificação tão profunda nas concepções de arquivo e discurso transforma não apenas a circulação do que é dito/escrito, mas a própria forma de fazê-lo: isso implica outro procedimento de leitura e de escritura da leitura.

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