terça-feira, 5 de outubro de 2010

Kafka: a convivência impossível

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Kafka desperta o que há de melhor nos críticos. Melhor porque estão na angústia, no desespero permanente de só poder dizer, continuar, repisar, de novo e de novo. Que escolha infeliz, essa, dizem eles. Escolho: Kafka; e não há nada além disso, para sempre. Coetzee, Sebald, Piglia, Bloom, Benjamin, Borges: estão todos lá, prefigurados, antecipados, condensados, perdidos no informe, na derrisão kafkiana. Há um Kafka para cada um que se aproxima - uma porta que leva o nome de cada um, uma extensa escadaria que leva a um lugar conhecido apenas por esse que sobe. Alguns lembram que ele ria quando lia seus textos; talvez isso os dê um pouco de paz. Sebald gostava de pensar nos últimos dias; Kafka na sacada do sanatório, tossindo sangue. Piglia prefere os arroubos de paixão - a paixão mediada (possibilitada) pela ficção - e esse é um dos caminhos escolhidos também por Canetti. Alguns dizem que não há divisão entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos; um dia, tudo fica transparente. A partir disso, vale o esforço de encontrar uma linguagem (Josefina) que dê conta dessa convivência impossível (o caçador Graco).
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