quarta-feira, 2 de junho de 2010

O fetiche e a memória

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Podemos botar lado a lado três imagens que circulam hoje e dizem muito sobre o fetichismo de nosso tempo. Fetichismo: deslocamento do desejo para um objeto, um adorno, um pedaço de qualquer coisa. Derradeiro esforço para que o desejo continue circulando.


Se pensarmos na boite en valise de Duchamp, a caixa-maleta que guardava reproduções de suas obras, se olharmos para a edição especial do livro Searching for Sebald e se terminarmos a triangulação com Walter Benjamin’s Archive, uma reunião de reminiscências do crítico alemão, que cenário, que memorabilia temos então. São sempre dois lados: museificação e estagnação da força criativa em objetos dados, prontos ou, de outro lado, a ressignificação e o reaproveitamento do tempo que ainda resistia nas ideias/imagens/ficções tanto de Duchamp quanto de Sebald e Benjamin.

Dois livros amarram esse percurso possível: a Historia abreviada de la literatura portátil de Vila-Matas, com sua ficcionalização de Benjamin e Duchamp, colocando a ênfase na maleta como mobilidade, como nomadismo e sobrevivência; e, o segundo livro, Las tres fechas de César Aira, que dá uma lição de como armar as temporalidades conflitantes dentro de um texto que está disponível e dentro da leitura que esse texto nos exige, uma leitura que é dupla: leitura do tempo que o livro traz e leitura do tempo que trazemos conosco.

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