segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Minima Moralia




1) Roberto Calasso observa (49 degraus), sobre a situação de Adorno quando escreve Minima Moralia, que "seu momento de máxima força criativa coincide com a situação de máxima vulnerabilidade" - pois Adorno recém havia chegado aos Estados Unidos, como milhares de outros, fugindo da Guerra. Sem dinheiro, e sem ter onde cair morto, teve que assimilar uma quantidade brutal de novidades sem poder pensar muito em suas limitações, sofrimentos ou preferências.
2) O método escolhido foi o aforístico - breve, conciso, de um só fôlego (quase como um blog que se escreve durante o trabalho), que já contava com larga tradição na língua alemã. Movimentos de dissecação muito precisos, que Adorno ensaia para abarcar a cultura em sua face monstruosa, midiática, multisensível, atabalhoada, que ainda nascia.
3) Isso foi em 1944. Ao longo de 1940, Walter Benjamin experimentou algo semelhante, porque fugia do nazismo, havia sido preso, e também lutava cognitivamente para apreender um estado de coisas delirante. Também com o gênero aforístico, às pressas: as teses que formam o ensaio Sobre o conceito de história foram escritas em pedaços de papel encontrados ao acaso, escritas sobre a coxa, escritas na penumbra, dentro de um trem, até que se juntaram em uma sucessão de iluminações.
4) Essa é a costura indissolúvel entre contingência e expressão (como os microgramas de Walser), e tanto Minima Moralia quanto as teses sobre a história (e o contexto que possibilitou...) sobrevivem ainda hoje, subterraneamente, como um capítulo em potência de uma história abreviada do pensamento portátil, talvez.

Um comentário:

  1. Lembrei do caso do Auerbach, que também escreveu os textos do Mimesis no exílio, na Turquia.

    É como se a escrita fosse um refúgio, onde o homem sempre pode se abrigar, não?

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